Os chineses estão usando a tecnologia blockchain para fugir da rigorosa censura na internet do país.
Um ex estudante da Universidade de Pequim escreveu uma carta relatando más condutas da universidade ao tentar encobrir o caso de assédio. O caso envolvia uma estudante que cometeu suicídio em 1998 depois de ser assediada sexualmente por um professor da universidade.
Está carta foi bloqueada pelas redes sociais chinesas e um usuário anônimo postou a carta na blockchain da Ethereum.
Os cidadãos também usaram a blockchain para preservar uma reportagem investigativa sobre vacinas inferiores que estavam sendo aplicadas em bebês chineses e falsificação de dados.
Por ser segura, descentralizada e transparente, blockchain é uma grande aliada nessas questões.
Blockchains descentralizadas vão desafiar a capacidade das nações autoritárias de manter o controle sobre suas populações. A tecnologia torna a censura algo muito difícil.
Tanto a carta sobre o assédio na faculdade, quanto a reportagem das vacinas foram inseridas os metadados das transações no blockchain Ethereum. Como as transações da Ethereum são públicas, qualquer pessoa pode ter acesso às informações.
Como a blockchain é descentralizada, não é possível que os censores da internet chinesa pressionem qualquer pessoa ou entidade para remover as informações.
Governo chinês revida
Essa resistência à censura graças à blockchain tem preocupado o governo Chinês. Por conta disso, um novo regulamento da Administração do Ciberespaço da China exige o fornecimento de nomes reais, número de identidade ou telefones para usar blockchains.
A lei ainda pretende acessar os dados postados na blockchain quando quiser. Assim, os provedores de serviço blockchain são obrigados a manter registros sobre transações e outras informações e relatar qualquer uso ilegal às autoridades, além de impedir a disseminação de conteúdos proibidos pelas leis chinesas.
De acordo com o novo regulamento, também é necessário que os provedores removam “informações ilegais”, o que é curioso, já que as informações armazenadas em blockchain são imutáveis e não podem ser removidas.
Assim parece que a intenção da China, é equilibrar a modernização econômica com o controle político.
Blockchain, só que chinesa
O ex chefe do instituto de pesquisa de moeda digital do People’s Bank of China, Yao Qian, argumentou contra a necessidade de um consenso da comunidade onde todos os usuários participam de transações e decisões relacionadas à governança.
Yao Qian apoiou um sistema multicêntrico onde o consenso é gerenciado por vários nós principais. A intervenção pode ser aplicada em caso de emergência. Se necessário, os dados e as transações podem ser revertidos e o sistema pode até ser desligado.
A China foi o primeiro país a categorizar blockchain, além disso, a maioria das blockchains com alta classificação são desenvolvidas na China ou têm grandes conexões chinesas.
A blockchain mais favorecida pelo governo chinês, EOS, usa um modelo onde os usuários votam em representantes e apenas eles verificam as transações e tomam decisões de atualizações do sistema.
As transações e decisões de controle da EOS são processadas e aprovadas por 21 nós principais, chamados supernodes, 12 deles estão na China. Assim é mais fácil para o governo manter o controle, já que a penalidade pelo descumprimento das regulamentações chinesas é alta para supernodes baseados na China.
Ao mesmo tempo que o governo chinês espera que a tecnologia blockchain resolva os problemas econômicos e sociais do país, ele também é contra sistemas blockchain descentralizados.
O governo da China não permitiria a implementação de blockchain sem mudanças significativas e as mesmas acabaram modificando elementos fundamentais da tecnologia original.
Essas novas regulamentações e blockchains como EOS, podem acabar impedindo que ativistas usem blockchain para combater a censura no país. Os supernodes da EOS já congelaram contas associadas a golpes e reverteram transações já confirmadas. Outras blockchains como Neo podem ir pelo mesmo caminho.
Com esses acontecimentos, apesar da China ser um grande player em blockchain, o país está modificando e controlando a tecnologia a seu favor e isso não é nada positivo para os chineses, além de servir como modelo para outros regimes autoritários utilizarem blockchain da mesma forma.
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