Indústria de ICO chega a 19 bilhões de dólares: a dinâmica de arrecadação mudou.

A arrecadação de fundos agora tem um novo caminho: Initial Coin Offering.

Por Eduardo Salvatore

Segundo o relatório divulgado ontem, dia 23 de julho, pelo veículo especializado Coindesk, a indústria de ICO arrecadou o total de 19 bilhões de dólares desde 2012.

ICO significa Initial Coin Offering, ou Oferta Inicial de Moedas em português. É uma espécie de Initial Public Offering (quando uma empresa abre participação na bolsa de valores) do mundo blockchain. Porém, é um processo muito menos burocratizado e possibilita o investimento em um projeto independente do local em que o mesmo se encontra, por se tratar de um projeto que roda na rede, ele é facilmente escalável e não necessita de um produto específico.

whitepaper do satoshi nakamoto
O primeiro Whitepaper, da moeda digital Bitcoin.

 

Funciona da seguinte forma: uma equipe/empresa/organização possui uma ideia de projeto e publica os dados/estudos em um relatório comumente chamado de whitepaper. Este whitepaper possui o escopo do projeto e a maneira de arrecadação proposta.

Na grande maioria dos ICOs, cria-se um token próprio para aquele projeto, que representará alguma participação na rede. Este token é então ofertado para arrecadar os fundos necessários para tocar o projeto adiante. Pessoas de qualquer lugar do mundo podem enviar criptomoedas (normalmente bitcoin e ether) para que sejam trocadas pelos novos tokens e, assim, enviadas ao investidor inicial.

Contudo, é fundamental ressaltar que, por não ser regulamentado, a empresa que está angariando os fundos não tem nenhuma obrigatoriedade legal em dar qualquer tipo de garantia ao investidor, por isso, investir em ICOs é um investimento de risco!

Mas vamos aos números expressivos que mostram a revolução provocada na indústria de capital de risco.

Apenas no segundo trimestre deste ano, foram arrecadados 7,3 bilhões de dólares em 192 ICOs diferentes. Grande parte deste montante é associada ao ICO da EOS que ao longo de um ano levantou US$4,2 bi mas foi contabilizado apenas no mês de encerramento (junho/18).

Initial Coin Offering vs. Blockchain Venture Capital

Don Tapscott, autor do livro “Blockchain Revolution” e um dos gurus da comunidade, escreveu em 2016 que a arrecadação via ICOs iria ultrapassar as via fundos de Capital de Risco (Venture Capital) em 5 anos. Porém ele se enganou, e hoje as Ofertas Iniciais de Moeda já ultrapassam os números dos VC no setor.

O investimento em blockchain pelos fundos de Capital de Risco começaram no ano de 2012, com um crescente parabólica, enquanto o investimento através de Ofertas Iniciais de Moeda começaram no ano de 2013, porém explodiram no ano passado. Abaixo, podemos ver uma evolução de ambas as formas de arrecadação no tempo:

gráfico ICO Venture capital risco arrecadação
Gráfico de arrecadação em dólares ao longo do tempo através de Initial Coin Offering e de fundos de Capital de Risco. Clique para aumentar.

É um tanto impressionante. Porém, é verdade que estes valores exorbitantes são muito influenciados pelos principais ICOs, que arrecadam grande parte do montante total e aumentam a média arrecadada consideravelmente. Exemplo: segundo o relatório, em Dezembro de 2017, houveram 76 ICOs e arrecadaram um total de 1,4 bilhão de dólares, já o ICO do Telegram e do EOS somados arrecadaram em torno de 6 bilhões de dólares.

É possível concluir duas coisas destes dados:

O hype em torno desta forma de levantar fundos é inegável, e várias iniciativas aproveitam-se deste buzz para lançar projetos a esmo, sem a pretensão de entregar algo de fato. Inclusive algumas celebridades aproveitaram do momentum para lançar seus próprios projetos e usar sua imagem como chamariz, caso recente da Ronaldinho coin e da Akon coin. Não só isso, o fato de não ter garantia legal com o investidor, possibilita que projetos escusos arrecadem dinheiro e use o recurso em benefício próprio. Fato que leva alguns países como a China a banir o investimento através de ICOs.

É um trade off entre a diminuição da burocracia/flexibilidade, escalabilidade e a segurança/respaldo legal.

A segunda conclusão que segue é que o apetite por parte do mercado por essa forma de arrecadação é estrondoso. Para se ter uma ideia, o IPO do Facebook, em 2012, levantou US$ 16 bilhões, com 845 milhões de usuários ativos e 2,7 bilhões de curtidas e comentários diários à época, já a EOS, consagrou-se o maior ICO com US$4,2 bi sem um produto sequer. É como se estes valores representassem os primeiros rounds de investimento no mercado tradicional, isto é, algo sem nenhum precedente.

Um fato que corrobora este apetite é que, no Brasil, temos mais pessoas cadastradas em corretoras de criptomoedas do que na bolsa de valores. Dizer que as pessoas não querem investir, torna-se, portanto, uma falácia. As pessoas querem é praticidade na hora do investimento, e o ICO veio justamente pra isso.

Imagine um ICO da Telsa, empresa de Elon Musk, com os seguintes números: pelo menos 15 milhões de fãs da empresa espalhados pelo mundo, dispostos a pagar 1000 dólares para qualquer tipo de participação no processo decisório da empresa ou por qualquer tipo de benefício. Pronto, rapidamente a empresa arrecadou 15 bilhões de dólares em questão de horas/dias.

Mas não é tão simples… Governos estão se movimentando para regulamentar este tipo de arrecadação para prevenir lavagem de dinheiro, com o caso dos Estados Unidos, que lançou a SAFT (Simple Agreements for Future Tokens), acordos de compra de tokens futuros, quando fundos de Capital de Risco e as Ofertas Iniciais de Moedas se encontram:

Em um acordo SAFT, fundos de capital de risco investem em um projeto em troca da promessa de um dia receber um certo número de tokens da empresa em um ICO. A premissa é que quando o serviço estiver operante, consumidores utilizarão os tokens dentro da rede proposta e, assim, estes tokens terão valor. É uma espécie de cartão de compras de uma loja que ainda não abriu misturado com uma aquisição de ações de uma empresa limitada. Porém, na SAFT adiquire-se o direito aos tokens futuros, não necessariamente uma participação de fato na empresa que emitirá os tokens.

Porém, isto é extremamente recente, sendo a primeira SAFT arquivada em Outubro do ano passado. E o congresso americano ainda debate se as criptomoedas deveriam ser qualificadas como títulos, apesar do Bitcoin e do Ethereum estarem fora desta discussão.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), coloca o Initial Coin Offering como uma espécie de crowdfunding. Porém, caso ache necessário, haverá o registro dos investidores junto a entidade. Saiba mais aqui.

Fato que leva iniciativas nacionais levarem seus projetos para países mais amigáveis. Como o caso do token Dynasti, estruturado pela empresa especializada em ICO Finchain.

Mas como saber em qual ICO investir?

Os projetos certos ou, pelo menos, os considerados certos pelo mercado conseguem quantias inéditas de arrecadação, sem taxa de juros, apenas com uma promessa. Sim, é especulativo… deveras especulativo. Mas existe maneiras de se saber se um ICO está mais propenso a dar um retorno positivo, como?

  • Analisando a equipe por trás do projeto: Quanto maior a credibilidade da equipe, menos disposta a perder esta credibilidade ela estará. Um fracasso ou um esquema de fraude fariam justamente este serviço.
  • Analisando o projeto e sua ideia: Seja crítico. Analise o projeto, a ideia do produto, o público-alvo, o tamanho do mercado, se está em expansão ou não. Faça uma análise minuciosa de todos os dados apresentados.
  • Liquidez: Quanto maior a liquidez, maior a chance de se hedgiar contra possíveis esquemas e maior o valor intrínseco do token.

Dito isso, faça sua própria análise, não vá com a maré e tome as medidas preventivas de segurança na rede sempre. Independemente, é seguro afirmar: A Oferta Inicial de Moedas é algo estabelecido, não transitório, que ainda atrairá um número cada vez maior de investidores, sejam amantes da tecnologia blockchain ou apenas especuladores. Valores inimagináveis ainda estão por vir e é importante ficar por dentro desta nova dinâmica de arrecadação mundial.

 

 

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